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Tremoço ajuda a regular níveis de glicemia em doentes com diabetes?

6 Nov 2023 - 10:28
exagerado

Tremoço ajuda a regular níveis de glicemia em doentes com diabetes?

O tremoço é apresentado, nas redes sociais, com um alimento que “interage com a insulina humana, promovendo a regulação dos níveis de glicose no sangue”. Este alegado efeito tem vindo a ser partilhado na sociedade, tornando-se um fator de dúvida entre os doentes com diabetes.

Em várias publicações, sublinha-se que este alimento é “muito rico em fibra, proteína e antioxidantes” e que, “se consumido com moderação, o tremoço pode ser útil para quem sofre de diabetes tipo 2”. 

Há ainda referência a alegados efeitos na regulação do colesterol “graças à fibra insolúvel, que reduz a gordura do corpo e promove o trânsito intestinal”.

Mas serão estas alegações verdadeiras? O tremoço é um alimento que interage com a insulina humana, promovendo a regulação dos níveis de glicose no sangue?

Comer tremoço interage com a produção de insulina? 

O endocrinologista Francisco Sousa Santos, especialista no Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e autor da página Hormonas em Bom Português, reconhece que alguns pacientes com diabetes tipo 2 lhe perguntam sobre os efeitos do tremoço no controlo dos níveis de glicemia, mas afirma que é preciso alguma cautela.

“O tremoço tem uma composição interessante e é um alimento equilibrado. Mas, como todos os outros alimentos, não tem propriedades únicas e mágicas”, prossegue o especialista, em declarações ao Viral.

Pertencente ao grupo das leguminosas, o tremoço contém “fibra, fitoesteróis (nutrientes derivados do colesterol vegetal) e proteína vegetal”. Estas características nutricionais são “interessantes” para um doente com diabetes tipo 2, uma vez que estão associadas a uma absorção mais lenta do açúcar para o sangue.

O especialista explica que a fibra é um tipo de hidrato de carbono mais complexo que demora mais tempo a ser digerido no intestino, o que faz com que haja um “pico de glicemia menor” após a refeição.

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No mesmo sentido, o elevado conteúdo proteico está associado a uma subida moderada dos níveis de glicose (açúcares) no sangue e a um “aumento da saciedade”, que faz com que as pessoas “sintam menos fome” durante um período mais prolongado.

Além disso, “ajuda a preservar a massa muscular”, o que pode contribuir para uma “diminuição da resistência à insulina”, acrescenta Francisco Sousa Santos.

Não é um alimento que a pessoa come que vai fazer baixar os níveis. Temos de ter uma boa alimentação e de fazer escolhas o mais saudáveis possíveis.” 

Sobre a alegação de que a ingestão de tremoço interage com a produção de insulina, o endocrinologista admite que existem estudos sobre o assunto, mas alerta que o efeito relatado “é muito modesto” e, por isso, não poderá ser tido como terapêutica para a diabetes tipo 2.

“O tremoço pode fazer parte da dieta de uma pessoa com diabetes. Mas comer muitos tremoços não pode ser usado como um tratamento para esta doença”, afirma.

Sobre as alegações relacionadas com o colesterol, o endocrinologista esclarece que os efeitos identificados nos estudos não são “clinicamente significativos”.

Isto significa que, apesar de haver uma alteração identificada estatisticamente, esse valor não é suficiente para ser uma forma de tratamento. “Com medicação que utilizamos, conseguimos uma redução maior”, afirma.

Francisco Sousa Santos alerta ainda que, apesar das características do tremoço, o processo de conservação pode trazer alguns riscos. Em Portugal, é comum encontrar frascos de tremoço em conserva à venda nos supermercados, o que aumenta a concentração de sal neste alimento.

“A pessoas com diabetes tipo 2 têm um maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Como as conservas têm muito sal, se não lavarmos bem os tremoços e não retirarmos a casca, vamos estar a ingerir uma grande quantidade de sal que pode aumentar os níveis de tensão arterial do paciente”, explica.

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O especialista sugere, por exemplo, a utilização de farinha de tremoço como uma forma “mais saudável” de beneficiar dos efeitos deste alimento, no âmbito de uma alimentação equilibrada. Por não conter glúten, o tremoço pode também ser incluído na dieta de um doente celíaco.  

Em suma, o tremoço, devido à sua composição, pode ser um alimento interessante para incluir na dieta de um doente com diabetes tipo 2. No entanto, à semelhança de outros alimentos, não tem propriedades terapêuticas e não deve substituir os medicamentos indicados pelo médico.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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Alimentação

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6 Nov 2023 - 10:28

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